A Moda e O Engajamento de Evita Perón
Considerada uma das mulheres mais elegantes e bem-vestidas da história política, Evita Perón se tornou, na metade do século 20, um ícone de estilo, classe e, sobretudo, de engajamento social na Argentina.
Conheça brevemente a história e as relações com a moda dessa mulher poderosa, estilosa e queridíssima (ou nem tanto) entre "los hermanos".
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Evita e Juan Perón saudando o povo argentino. |
Breve Biografia
Nascida com o nome de María Eva Ibarguren (1919-1952), Eva era a filha bastarda mais nova de Juan Duarte. Sua mãe, a costureira Juana Ibarguren, foi amante de Juan, e essa condição de filha ilegítima inspirou Eva a buscar se afirmar e alcançar altos patamares.
"Evita se isolava, dividida como todos os humilhados, entre a solidariedade com seu clã e a vergonha de pertencer a ele. Também o seu comportamento se mostrava assim, dividido: alegre e extravagante em casa, fechada em copas da porta pra fora. E os acessos de cólera! A raiva a sacudia toda, eletrizava-a. Parecia incrível que um corpo tão franzino comportasse tamanhas tempestades".
Foto: Reprodução. Evita Perón.
O fato de ter nascido fora do casamento e não ter sido registrada pelo pai afetou profundamente Evita, fazendo com que muitos rapazes não quisessem se envolver em um relacionamento sério com ela.
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Ornamentos de cabelo eram parte do estilo de Eva. |
Aos 15 anos de idade, Eva partiu com seu amigo, o cantor de tango Augustín Magaldi, rumo à Buenos Aires, ambos desejavam alcançar o estrelado na capital e triunfar na vida artística.
"Aos 15 anos, infelizmente, não havia qualquer fórmula mágica a seu alcance. Ela não tinha o vocabulário adequado, a pronúncia correta ou a beleza chamativa e esplendorosa que poderia substituir as palavras e a fala culta. Para baixo e para cima em busca do ganha-pão, ela não tinha tempo para aprender a representar".
Foto: Reprodução. A jovem Evita, ainda como Maria Eva.
O primeiro impulso de Eva foi se envolver com teatro e cinema. No entanto, ela não possuía a beleza idealizada pelos diretores, nem a solidez em sua interpretação, o que fez com que sua carreira não deslanchasse como esperado.
O que restou a Evita foram as radionovelas; entretanto, sua sorte mudaria em 1944, quando conheceu o coronel e vice-presidente da Argentina, Juan Domingo Perón.
O casal trocou as primeiras palavras em um evento realizado para ajudar as vítimas de um terremoto que atingiu a cidade de San Juan, e um ano depois, em 1945, já estariam casados
Foto: Reprodução.
Evita e O Peronismo
Em 1945, Juan Perón foi vítima de um golpe militar que o colocou na cadeia. Eva, praticamente sozinha, conseguiu reunir mais de 300.000 pessoas em Buenos Aires, e a população exigiu a libertação de Perón... e assim aconteceu.
A garra de Eva para libertar Perón fez com que eles contraíssem matrimônio poucos dias após sua libertação
"Evita, por outro lado, não estava assim tão ausente quanto se fez crer. Embora o povo a ignorasse como revolucionária, não deixava de evocá-la de outra forma. Pois não haviam produzido esta rima: Olicargas a outra parte / Viva el macho de Eva Duarte.
Ela já se tornava um elemento necessário no ritual peronista. Sua própria existência provava que ele, Péron, era um macho. A sorte estava lançada: ela passaria a ondular como um estandarte erótico. Se Evita não tivesse existido, teria sido inventada.
Mas os impositivos de uma rima revelam, ainda que involuntariamente, uma inversão dos papéis: entre os latinos, diz-se normalmente que uma mulher é 'fêmea' de um homem, mas é raro chamar um homem de macho de uma mulher - a menos que essa mulher tenha luz própria. Evita, abelha-rainha no inconsciente do povo".
Foto: Reprodução.
Durante os mandatos de seu esposo, Eva passou a ser chamada de Evita e se tornou um símbolo de luta pelos pobres.
"Ao partir para a Europa, ela ainda se chamava doña Maria Eva Duarte de PERÓN. Mas, ao retornar, aceitou a ideia de Apold, passando a usar apenas aquele nome. Curto e sonoro, ele substituía o arrastado nome tradicional de esposa, como o coque tomara o lugar dos cachos.
Mas na Argentina não é comum eliminar o nome de solteira para dar lugar ao nome do marido. Em geral, acrescenta-se a partícula 'de', sem conotação nobiliárquica, como na França. Poderia ser traduzida no sentido de posse: María Eva Duarte 'é de' Perón, pertence a ele.
A mulher casada torna-se, assim, propriedade do marido. Mas nem por isso perde o nome do pai, e ninguém jamais pensaria em designar um casal como 'Sr. e Sra".
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O peronismo foi muito semelhante à Era Vargas que ocorreu no Brasil. Perón se aproximou bastante dos trabalhadores urbanos, aumentou seus salários, instituiu o décimo terceiro salário, férias remuneradas, entre outras medidas. O populismo era uma das bases da política de Juan Perón. Com o marido no poder, Evita lançou uma campanha pelo sufrágio feminino e conseguiu que o voto feminino fosse incorporado na Argentina em 1947. | . |
Foto: Reprodução. Evita em todo seu esplendor.
Evita faleceu de câncer no útero em 1952 e foi de extrema importância para o Peronismo, pois o Peronismo estava personificado na imagem de Evita.
Moda e Estilo de Evita Perón
Evita, no início, era uma moça simples do interior. Mesmo depois de casada, ainda não tinha um senso estético bem desenvolvido; isso só mudou após uma viagem à Europa. No Velho Continente, Eva conheceu diversas marcas famosas, incluindo a casa Dior.
Antes de mudar seu modo de se vestir, Evita fez uma modificação importante em seu cabelo.
"Na Argentina dos anos 40, como na de hoje, as atrizes e as burguesas sonhavam em se tornar louras, adotando a cor revestida do prestígio de tudo o que é imposto pela civilização do Norte: ser loura significava, e continua significando, escapar à maldição do Sul. A lourice é sinal de riqueza e ascensão social. Evita seguiu a tendência e mandou oxigenar seus cabelos para desempenhar o papel de uma jovem ingênua em La Cabalgata del Circo. Dourada, ela descobriu que aquela cabeleira radiosa exaltava sua beleza. Mais que isso, fazia-a nascer!"
Foto: Reprodução. Vestidos de Eva em museu dedicado à sua vida.
O guarda-roupa de Evita foi completamente transformado e se tornou mundialmente conhecido em 1950, quando Gisèle Freund conseguiu obter algumas fotos do armário da primeira-dama.
Eram vários casacos, vestidos, sapatos, chapéus e jóias. As fotos foram publicados posteriormente na Revista Life.
"Evita queria examinar modelos de grandes costureiros. A embaixatriz aconselhara que fossem trazidos ao Ritz, e Dodero, sempre empenhado em atender aos menores desejos de Evita, organizara um desfile de moda. Os manequins das maiores casas de costura já lá se encontravam, vestindo-se num dos salões.
E Evita, maravilhada, esquecera a escola e as caixas de presunto. Benítez armou uma cena, irado, acusando Dodero de seduzir Evita com frivolidades, e Evita de deixar-se seduzir. Toda envergonhada, a visitante cancelou o desfile, para indignação dos costureiros. Mas não iria embora de Paris sem deixar suas medidas com Dior e Marcel Rochas. O primeiro se tornaria o criador de suas toaletes mais famosas, que lhe enviava regularmente a Buenos Aires. Quanto a Rochas, Evita só usaria dali por diante seu célebre perfume Femme".
Os vestidos de gala de Eva Perón claramente eram de alta-costura, e ela fazia questão de adornar pescoço, braços, orelhas e dedos com as suas melhores jóias.
"Nunca será demais falar dos vestidos de Evita: eles nos dizem tudo a seu respeito, de seus receios e audácias. Naquela noite, seu vestido de lamê dourado era espetacular. Román Lombille afirma que ela parecia inspirada nas produções de Samuel Goldwyn - certamente por causa do dourado. E aproveita para entregar-se a outras reminiscências cinematográficas: 'Representaria ela uma imperatriz romana? Ou a mulher de Salomão? Ou Salomé? Não, era Cleópatra, a mulher de um Ptolomeu e de um César. '
A silhueta de Eva-rainha-egipcia parecia esculpida nas dobras enviesadas de uma saia moldada, prolongada por uma que se abria em leque. Alças, muito justas e nitidamente sustentadas por barbatanas, culminava num busto armado e pregueado que valorizava os seios - muito melhor que as meias emboladas da Eva adolescente.
O desenho do colar, os três pesados braceletes, os brincos compridos e os sapatos dourados com pedras incrustadas no salto evocavam realmente Roma ou o Nilo."
Em matéria do programa Fantástico, exibida em 5 de Janeiro de 1997, o estilista argentino Gino Bogani, fez a seguinte observação sobre Evita Perón:
"Eva é dos anos 50, época de ouro de Jacques Fath, Pierre Balmain e Christian Dior. Para nós, Evita sempre foi alguém próximo, mas para os americanos, ela era um mito, como Maria Antonieta foi na França" [1]
Acessórios de Cabelo
Na edição de dezembro de 1996 da revista Vogue, há um anúncio sobre um sorteio de uma casquete que pertenceu a Evita Perón. De acordo com as informações, a peça tinha origem francesa, havia sido confeccionada nos anos 40 e era enfeitada com penas de galo. O valor do acessório foi cotado em €1.000 euros.
Coque, sua marca registrada
O penteado símbolo de Evita Perón foi o coque, que a acompanhou por muito tempo. A despeito da possível inspiração para usar esse estilo, é dito o seguinte em uma de suas biografias:
"No fim de 1947, Evita decide de uma vez por todas: o coque na nuca, já conhecido de todos, torna-se seu penteado exclusivo. Houve quem visse nisso influencia de Christian Dior. Outros o negam. Segundo eles, Evita inspirou-se numa argentina, Hortent Ruiz González de Fernández Anchorena, que conheceu em Paris.
E por fim, Pedro Alcaraz jurou ter sido o único inventor do coque, que teria inaugurado para que Evita, que ia de manhã cedo para o escritório, pudesse, graças a um aplique e alguns grampos', ficar impecavelmente penteada até o fim do dia. Seja como for, o coque, tecido como duas mãos fortemente entrelaçadas, transcenderá a moda ou o argumento prático para transformar-se em símbolo da nova Eva".
Evita nas Telas de Cinema
O Filme foi indicado a vários prêmios, incluindo a categoria de Melhor Figurino, mas ganhou o Oscar como Melhor Canção Original por You Must Love Me e três Globos de Ouro, em Melhor Canção Original de Cinema, Melhor Filme de Comédia/Musical e Melhor Atriz em Comédia (Madonna).
Além de ter sido um ícone de estilo, Evita participou ativamente da vida política de seu país, onde foi líder da Fundação Evita Perón, uma organização dedicada à ajuda dos mais necessitados.
Ela em pessoa se encarregava pela doação de alimentos e roupas.
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Figurino de Madonna como Eva Perón. |
Acerca da personagem, em entrevista à GMTV, Madonna declarou:
"Bem, eu sabia que era uma chance de realmente me desafiar como atriz e cantora. Não acho que queria provar nada, mas pensei: 'Deus, tenho uma grande responsabilidade e espero conseguir cumpri-la". [2]
O cinema argentino igualmente se debruçou na história de Eva Perón. Nos anos 90 foi produzido A Verdadeira História de Evita, do diretor Juan Carlos Desanzo. O papel principal foi dado à atriz Esther Goris, que impressionou pela semelhança física com Eva.
Legado como primeira-dama
Ela em pessoa se encarregava pela doação de alimentos e roupas.
"Ela recebia em média 12 mil cartas por dia. Todas eram lidas e arquivadas por uma equipe de assistentes sociais escolhidas por Evita por sua experiência com o sofrimento: para entender aquelas cartas, em vez de rir delas, era preciso conhecer a dor. As assistentes poderiam incumbir - se de responder a cada um e de enviar os pacotes, ou os caminhões, com os artigos solicitados . Mas não se tratava apenas de artigos solicitados. Tratava-se de Eva. Era sua mão que devia estender o dinheiro, sua orelha que devia ouvir, seu rosto que precisava certificar a existência da beleza.
No dia em que se começava a desistir da ideia de ser recebido pela Senhora da Esperança (ou da Ilusão?) chegava finalmente a carta, com data e hora da audiência. A menos que uma menininha tivesse a ideia de acrescentar à carta de sua mãe, que pedia uma máquina de costura ou seu próprio pedido de uma boneca. Neste caso, nada era impossível. Podia acontecer, por exemplo, de a campainha tocar: mãe e filha corriam para abrir a porta, e lá estava Evita de pé, segurando uma grande caixa transparente que permitia ver os cachinhos louros de uma boneca de sonho".
Caso use algum material do blog como referência, por favor dê os créditos. Plágio é crime e pode resultar em processos. Texto escrito por Gabriela Lira.
Para referenciar use:
LIRA, Gabriela. A Moda e O Engajamento de Evita Perón. História da Moda. Disponível em:
https://www.historiadamoda.com/2017/02/a-moda-de-evita-peron.html
Quer que eu escreva pra você? Entre em contato através do perfil @ahistoriadamoda.
Fontes:
Trechos de: Eva Perón, editora BestBolso, 2016 - Alicia Dujovne Ortiz.
[1] Essa edição do Fantástico pode ser vista aqui.
[2] A íntegra da entrevista da Madona pode ser conferida aqui.
8 comentários:
Eu estou #morta com os vestidos de gala! Que mulher estilosérrima <3 beijos!
Olá! No último ano do Ensino Médio, na aula de Espanhol, fui agraciada pelo conhecimento dessa mulher. O professor passou o musical estrelado por Madonna, e desde então me encantei pela história dessa mulher. Adoro o filme e principalmente o legado que deixou para todas mulheres e os "descamisados". :)
beijos
https://eu-ludmilla.blogspot.com.br/
eu vi o filme com a madonna, adorei esse post mais completo com looks dela, ela era mt phyna
www.tofucolorido.com.br
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quando visitei Buenos Aires, conheci um pouco da história dela e gostei bastante. bom saber um pouco mais através desse post. e ela era muito elegante ♥
Beijinhos
n. // www.fashionjacket.com.br
Essa mulher era puro glamour, olha quantos looks lindos! *---*
Beijos,
Pri
www.vintagepri.com.br
Ela é realmente um ícone na Argentina, até hoje lembrada e celebrada como a grande personalidade que foi. E estilosa demais, sem dúvida!!!
Um beijo! Não Me Mande Flores ♥
Adorei o post!! Já havia lido um pouco sobre a história dela e achado incrível. Era ainda mais difícil para uma mulher, ser o que ela foi naquela época.
Beijos ♥
Jéssica || Fashion Jacket
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Dura sim! Com pouco produto já dá pra espalhar pelo cabelo inteiro! ;)
Evita era uma mulher de atitude. Em todos os sentidos! O estilo dela era bem chamativo!
Ótima quinta!
Beijo! ^^
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