A Moda Feminina nos Anos 60 - Características

1/11/2022
Dando continuidade ao quadro História da Moda nas décadas do século 20, chegamos nos agitados anos 60. Qual foi a silhueta predominante nesse período, os estilistas mais notáveis e principais influências? Descubra a seguir.

A moda feminina nos anos 60
Catálogos de roupa nos anos 60.

O Romantismo do começo de 1960

Todo início de década é caracterizado pela estética de transição, isto é, a moda contém elementos da época passada + elementos que se fortalecerão no futuro. Com os anos 60 não foi diferente.

A moda feminina dos primeiros anos ainda tinha os resquícios do romantismo de 1950, contudo, a silhueta vigente era diferente da silhueta New Look do Dior. Podemos dizer que a silhueta do comecinho da década de 60 foi rica nas saias e vestidos balonês.

Exemplos de roupas usadas no começo de 1960.

A delicadeza da era passada se manifestou nas estampas florais e quadriculadas e na ultrafeminilidade da maquiagem e penteados.

Como símbolo da moda graciosa e conservadora dos anos 60, podemos citar a primeira-dama Jacqueline Kennedy. Seu conjunto cor-de-rosa com golas em azul escuro, botões dourados e chapéu pillbox se tornou sensação na época e percorreu o tempo, pois hoje em dia é usado como fantasia de Halloween nos Estados Unidos.

John F Kennedy ao lado de Jacqueline.

"John F. Kennedy tornou-se presidente em janeiro de 1960, e sua estilosa e glamorosa esposa, Jackie, tornou-se a nova primeira-dama. Muito mais jovens do que seus predecessores, os Kennedys foram vistos por muitos como sinais de uma nova esperança e otimismo para a nova década". [1]

Vestidos em linha A foram os favoritos da primeira-dama.

O assassinato chocante e repentino de Kennedy no entanto, tirou Jacqueline dos holofotes e, curiosamente coincidiu com as mudanças radicais na moda da década de 60. 

Para saber mais sobre a moda brasileira entre os fins de 1950 e início de 
1960, clique aqui.


A Juventude Ditando a Moda 

Entre 1920 e 1950, os maiores influenciadores de moda e beleza foram os astros e estrelas de cinema, em especial os de Hollywood. Essas personalidades tinham um estilo adulto, sério e sofisticado. Mas a partir dos meados de 50, com a popularização do rock and roll e a ascensão de ídolos juvenis, o poder de influência mudou de mãos. E então chegamos nos anos 60, época em que a indústria de moda percebeu o poder de compra dos jovens e adolescentes.

Integrantes da banda The Supremes.

O mercado de trabalho para jovens começou a se estabilizar na década de 60. Com seu próprio salário, garotos e garotas puderam gastar em bens como carros e motocicletas, viagens, e claro, roupas. 

Propaganda antiga da Lambretta.

No tempo livre e com dinheiro, esses jovens se reuniam nos mais variados lugares. Tudo dependia da sua "tribo". Algumas tribos buscavam apenas divertir-se enquanto ouviam música e bebiam, já outras aproveitavam os encontros para discutirem sobre política, economia, cultura e outras pautas de interesse social.


Os Mods e os Rockers 

Os Mods, do inglês Mod (modernismo), eram jovens de uma subcultura originária da cidade de Londres. Eles passavam o tempo ouvindo músicas, geralmente blues, jazz e bluebeat, e tinham um grande interesse pelas tendências de vestuário do momento.

Um típico estilo Mod.

A estética Mod feminina ficou caracterizada pelo uso dos vestidos em linha A ou trapézio, meias coloridas, botas brancas ou sapatilhas de variados tons e uma maquiagem gráfica. 

A supermodelo Twiggy foi talvez a principal influência do estilo. Seus cabelos curtíssimos e olhos carregados com delineador e cílios postiços inspiraram milhares de meninas ao redor mundo, porque sim, o mod se espalhou rapidamente e foi adotado em muitos países, inclusive no Brasil.

Twiggy, maior modelo da década de 60.

Para ler mais sobre a História da Maquiagem na Década de 60, clique aqui.

Os Mods foram rivais dos rockers, uma outra subcultura inglesa com grande influência do rock and roll, assim como os greasers dos EUA; porém os rockers preferiam motocicletas e não carros. E é sabido que Mods e rockers ao longo dos anos 60 protagonizaram dezenas de confrontos, com direito à muita confusão, gritaria e algumas pessoas presas nesses tumultos.

Rockers nos anos 1960.

Ao contrário dos mods - normalmente pertencentes à classe média, os rockers eram pessoas (em grande maioria homens) da classe trabalhadora e pobre. Seu descontentamento com as desigualdades sociais se manifestava na aparência rebelde, que era composta por calça jeans, camisas abertas e jaquetas de couro com muitos bottons.

Adeptos do estilo Rocker nos anos 60.

Apesar de serem minoria, as mulheres rockers eram igualmente preocupadas com o vestuário. Assim como os meninos, usavam jeans, jaqueta e pra complementar o visual, eram adeptas do penteado colméia, em inglês beehive hair.


Os Panteras Negras e a Moda Afro

A década de 60 foi marcada por diversas lutas sociais, entre elas a busca por Direitos Civis e a igualdade racial. Nesse cenário, muitos grupos afros se popularizaram, entre eles o Partido dos Panteras Negras, fundado em 1966.

Membros do Partido dos Panteras Negras.

Os homens do partido usavam calças, camisas e jaquetas pretas (às vezes camisa branca), óculos escuros e muitos bottons temáticos por cima das jaquetas. As mulheres por sua vez, trajavam vestidos escuros com sobretudo. Em ambos os sexos era comum o cabelo afro e o uso de boinas.

E por falar em cabelo, ele foi um elemento fundamental na construção da imagem negra da década de 60. Usar o cabelo ao natural era uma forma de resistência e protesto contra a indústria da beleza, que até então colocava os negros em um completo quadro de invisibilidade. 

O movimento "Black is Beautiful" veio para fortalecer raízes e autoestima e mostrar que sim, negros também são belos, negros também podem ditar a moda e figurar em campanhas publicitárias, cinema e qualquer outra coisa.

"Na década de 1960, os afro-americanos começaram a celebrar sua identidade cultural. No passado, eles podem ter copiado o que poderia ser considerado estilos tradicionalmente caucasianos, desde alisar o cabelo até usar os mesmos tipos de roupas. Agora eles estavam prontos para serem diferentes. Isso ocorreu em um momento em que os afro-americanos lutavam para serem tratados da mesma forma que os brancos. 


Ainda havia lugares na América que separavam as raças. Eles simplesmente queriam as mesmas oportunidades e tratamento. Suas roupas se tornaram uma declaração de orgulho. Elas refletiam sua cultura. Por exemplo, os afro-americanos poderiam combinar o tecido tradicional africano com estilos modernos. O tecido Kente era usado em tudo, desde camisetas a roupões e gravatas-borboleta". [2]


O Futurismo na Moda 

O interesse pelo futuro, iniciado nos meados da década de 50, ficou ainda mais evidente nos anos 60. Tudo isso foi acentuado pela corrida espacial dos Estados Unidos e União Soviética, que disputavam entre si para saber quem iria mais longe desbravando o universo.

Jane Fonda em Barbarella.

Nesse contexto, diversas séries e filmes ambientados no espaço foram lançados. Como exemplo disso podemos citar a série Star Trek, conhecida no Brasil como Jornada nas Estrelas, de 1966 e o filme Barbarella de 1968.

"Barbarella, estrelado por Jane Fonda, foi talvez a mais fashionista das fantasias espaciais. Baseado em uma história em quadrinhos futurista strip, o filme apresentava roupas bizarras e minimalistas em plástico e vinil, principalmente para as mulheres – roupas transparentes, botas altas e macacões, com ou sem legging. Uma forma diluída desse visual permaneceu na moda por vários anos após o lançamento do filme" [3]

Toda a ficção científica foi inspiração para coleções e editoriais conceituais. As roupas tinham modelagem diferenciada e presença forte de tons metalizados. Como acessórios, havia uma constante presença de capacetes e armas de brinquedo que pretendiam ser à laser. 


A Arte Encontra a Moda 

As artes plásticas foram fundamentais para a criação de roupas nessa época. Em 1965, o estilista Yves Saint-Lauren lançou sua coleção mais icônica, inspirada no trabalho de artistas modernistas, entre eles Mondrian.

"A arte abstrata moderna ganhou vida nos anos sessenta. Havia pinturas feitas de formas geométricas e cores fortes, e os designers tomaram nota. Yves Saint Laurent olhou para uma pintura de um artista chamado Mondrian. Era ousado com uma grade preta contra o branco. Alguns dos blocos eram coloridos de vermelho, azul e amarelo. Ele decidiu fazer um vestido que se parecesse com ele. As mulheres conheciam a pintura e a viam no vestido. Isso nunca havia sido feito antes e causou certa excitação". [4]

Mondrian dress, maior criação de Saint-Lauren.

A corrente do pop art, que subvertia conceitos tradicionais de arte e tinha forte inspiração em elementos popularescos, também foi introduzida na Moda. Alguns trabalhos de Andy Warhol foram parar em peças de roupas, e até mesmo sua famosa obra Sopa Campbell ganhou uma versão em vestido.

A op art, corrente onde os artistas criavam padronagens com ilusão de óptica rapidamente se transformou em estampas das mais variadas peças do vestuário. E essas peças de fundos malucos eram fotografadas em fundos mais malucos ainda. 


A Moda Hippie Já existia nos anos 60

Apesar de ser mais comumente vinculada aos anos 70, a moda Hippie já estava estabelecida em finais da década de 60. 

Os hippies tinham um estilo de contracultura. Com longos cabelos levemente "desgrenhados" para os padrões da época e enfeitados por bandanas, eles apostavam em roupas largas e com estampas étnicas, sandálias baixas de couro e acessórios artesanais.

Hippies nos anos 60.

"Os hippies usavam saias longas ou túnicas esvoaçantes, camisas tie-dye e vestidos. Suas roupas tinham franjas e contas. Hippies também decoravam tudo, até seus corpos. Mulheres e homens  vestiam-se iguais. De certa forma, isso tornou mais fácil tratar mulheres e homens como iguais"  [5]

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Texto escrito por Gabriela Lira. Caso use o texto como referência, por favor dê os créditos ao blog. Plágio é crime e está sujeito à pena!

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Fontes citadas: 

[1 e 4]: Fashions of a Decade - The 1960s (2007), Yvonne Connikie.

[2, 3 e 5]: Fabulous Fashion of The 1960s (2011), Felicia Lowestein. 

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