A Moda Feminina nos Anos 1920 - Características

11/20/2022
Dando continuidade ao nosso projeto de História da Moda no Século 20, hoje vamos conversar um pouco sobre a moda feminina nos anos 1920. Existe vários estereótipos em relação ao vestuário dessa época, e eu pretendo ajudar a desmistificar alguns deles através desse post.


 
Contexto Histórico da Década de 20

A Prineira Guerra Mundial terminou em 1918, mas como qualquer guerra deixou marcas profundas nos países envolvidos nos conflitos. E muitos deles no início de 1920 ainda estavam se recuperando economicamente. Soma-se a isso, a pandemia da gripe espanhola (1918-1919) que matou cerca de 50 milhões de pessoas ao redor do mundo. Pois é, os primeiros anos da década de 1920 estavam bem distantes do clima festeiro e frenético pelo qual costuma ser associada.


"Nos países europeus, que ainda pagavam os empréstimos contraídos por
financiarem a Primeira Guerra Mundial e tinham pouco para investirem na indústria, a expansão industrial foi lenta. Nos Estados Unidos, no entanto, a fabricação em massa estava bem avançada, usando peças padronizadas e intercambiáveis, cada uma delas feita com ferramentas mecânicas em uma sequência de operações mecânicas simplificadas. Esta 'simplicidade na multiplicidade' foi essencial para alcançar a máxima eficiência e ficou conhecida como o 'sistema americano'. O Modelo T de Henry Ford teve tanto sucesso porque era um projeto padrão, feito de peças facilmente substituíveis".


A luta pelo voto feminino, travada muitos anos antes começou a colher seus frutos nesse período. Mulheres passaram a votar em 1920 nos Estados Unidos e esse fato ajudou a manter acessa a esperança de que mulheres em outras partes do mundo também conseguiriam. No caso do Brasil, esse direito só foi conquistado na década de 1930.

"A perda devastadora de tantos homens na Primeira Guerra Mundial significou que em grande parte da Europa, a população feminina superou a masculina. 



A luta britânica por votos para mulheres obteve uma grande vitória em 1918, quando o Parlamento aprovou a Representação da Lei do Povo. No entanto, aplicava-se apenas a mulheres com mais de 30 anos. 

A Constituição dos EUA, a Décima Nona Emenda de 1920 concedeu direitos às mulheres americanas, e ao longo da década, uma série de novas leis ajudaram a mudar o status das mulheres na sociedade. 



O número de universitárias ainda era muito menor do que o de homens, mas as mulheres começavam a ingressar em profissões dominadas por homens, embora não sem batalhas. A exceção foi no escritório, onde os homens escriturários eram geralmente substituídos por mulheres digitadoras e secretárias.


Embora médicas do sexo feminino ainda fossem raras, controladoras pioneiras de natalidade como Margaret Sanger e Dra. Marie Stopes fundaram suas primeiras clínicas em Nova York e Londres, respectivamente".

Indiscutivelmente o papel da mulher dentro da sociedade foi o grande debate na década de 20. A representação da romântica Gibson Girl dos anos 1900 já não mais combinava com o espírito da mulher daquele época, que foi substituído pelo arquétipo da melindrosa. 



Quem foram As Melindrosas?

As melindrosas eram jovens garotas que gostavam de sair pra dançar, beber e usavam da moda e beleza para chocarem alguns setores mais conservadores. 

Melindrosas eram fãs de cinema e atenadas nas últimas novidades de seu tempo. Ao mesmo tempo que eram influenciadas pela moda de sua época, acabavam por influenciá-la também. 


"Por meio de roupas e aparência pessoal, a geração mais jovem de mulheres percebeu que poderia exibir consciente e abertamente sua recém-descoberta autonomia. Elas se orgulhavam de desafiar os criadores de tendências parisienses e os estilistas americanos que, segundo Frederick Lewis Allen, haviam 'previsto o retorno das saias mais longas' em meados da década de 1920. Allen escreve: 'Apesar de tudo o que elas podiam fazer, no entanto, a saia na altura do joelho permaneceu padrão até a década se aproximando do fim'."


A Moda dos Primeiros Anos 

O início da década de 20 foi muito diferente do estilo melindrosa. As blusas eram soltinhas na região do busto e as saias iam até os tornozelos. A silhueta feminina era achatada e as mulheres pareciam ser mais baixas do que realmente eram.


Os vestidos tinham modelagem folgada, a marcação de cintura era média e havia muitos babados e fru-frus nas barras e laterais. Os chapéus tinham aba larga e apesar do cabelo curto já ser uma tendência amplamente divulgada, muitas mulheres conservavam os fios longos, fazendo apenas coques e outros penteados que simulavam um corte curto.


Para ler mais sobre a silhueta no início dos anos 20 e seus significados, clique aqui.


Uma Nova Silhueta 

Mas a silhueta que durou por boa parte dos anos 20 e também a que é mais associada a esse período da história da moda foi completamente diferente. Estamos falando da silhueta tubular. 


A silhueta tubular, também chamada de retangular, tinha como características: pouca marcação de busto, cinturas soltas e baixas e vestidos na altura dos joelhos. O corpo da mulher ficava muito diferente dos períodos anteriores, onde os atributos físicos costumavam ser realçados. Erroneamente se diz que essa silhueta proporcionava mais "liberdade", como se nenhuma estrutura fosse usada por debaixo para formar esse corpo. 


Por baixo dos vestidos, mulheres usavam cintas e sutiãs que comprimiam e achatavam as curvas. A busca pela silhueta esguia também aumentou o interesse por dietas e remédios que prometiam "eliminar gorduras". E o índice de transtornos alimentares disparou.


O Movimento Art Déco e A Moda

O grande movimento artístico dos anos 20 foi o art déco, caracterizado por suas linhas geométricas, gosto pelo futuro e moderno e cores contrastantes. O art déco se manifestou em vários campos de criação: arquitetura, design de interiores, design gráfico, mobiliário, produtos, e claro, moda. 


As roupas com influência art déco tinham abundância de estampas geométricas, especialmente linhas retas. Essas padronagens igualmente puderam ser vistas em fechos de bolsas e joalheria.


Interesse pela Cultura Egípcia

A descoberta do sarcófago do faraó menino, Tutancâmon, em 1922 pelo britânico Howard Carter, mexeu com as estruturas da Arqueologia. Rapidamente a cultura do Antigo Egito entrou em voga, e vários elementos daquela época foram introduzidos à moda dos anos 20.


"Em 1922, o arqueólogo britânico Howard Carter descobriu a tumba do antigo rei egípcio Tutancâmon, repleta de tesouros enterrados por 3.000 anos. As escavações permaneceram envoltas em segredo até o ano seguinte, mas a essa altura o mundo estava girando em um frenesi de 'Tutmania'. Motivos egípcios estavam por toda parte.


Cheney Brothers, empresa têxtil americana que produzia elegantes vestidos de seda estampados à mão, enviou um estilista ao Egito para buscar inspiração em primeira mão. Hieróglifos e motivos que pareciam um cruzamento entre um sunburst Art Déco e o cocar de Cleópatra, acessórios de moda cobertos, bolsas e piteiras esmaltadas e até compactos de pó 'múmia'. O antigo Egito viveu novamente em imitações baratas de brincos 'Cleo' e joias em forma de escaravelho, enquanto o motivo de lótus tornou-se o logotipo de uma marca de calçados".

As mulheres também passaram a delinear os olhos, tal como se fazia no Egito, e as perucas curtas e de franjinha foram inspiração para novos cortes de cabelo.


Para ler mais sobre a maquiagem nos anos 20, clique aqui.



A Influência do Cinema 

A grande força motriz da moda dos anos 20 foram as atrizes do cinema mudo. Através dos filmes e revistas de cinema, as mulheres juntavam referências e se inspiravam. 

Atrizes como Clara Bow e Louise Brooks foram as grandes "it girls" do momento. De Clara, as mulheres copiaram as maquiagens e o desenho da boca apelidado de "Cupid's Bow", já Brooks levou milhares de mulheres ao cabeleireiro em busca do cabelo curtíssimo e com franjas mais curtas ainda.


Revistas de cinema dissertavam acerca dos cuidados de beleza das estrelas, suas dietas, romances e guarda-roupas. As revistas femininas tiveram um grande papel na formação do gosto da mulher dos anos 20, pois eram uma espécie de vitrine de tudo o que estava acontecendo no mundo da moda e beleza.


O Vestido One Hour Dress 

Revistas femininas também ensinavam como costurar e fazer seus próprios acessórios e roupas em casa. Um modelo muito ensinado nessa época foi o vestido one hour dress. O intuito era que ele fosse feito em até 1 hora e por qualquer pessoa  (com conhecimentos ou não), sendo assim, seu molde era muito fácil de ser interpretado e consistia basicamente em uma forma retangular. As ornamentações ficavam por conta do gosto de quem o fazia. Geralmente era feito em tecidos simples, como o algodão, por exemplo.



A Inspiração no Oriente 

A criação do Balé Russo no início do seculo 20 e seu gosto por produções ambientadas no Oriente Médio reverberaram no vestuário dos anos 20.

"O impacto do Mil e Um Noites, popularizado em Paris pela produção do Ballet Russo de Diaghilev de Schéhérazade em 1910, continuou a ressoar bem nos anos vinte - especialmente no campo da cor e das ricas texturas de veludo turco e brocado.


Embora os turbantes e pantalonas de Paul Poiret tivessem saído de moda, o amor por estilos orientais sobreviveu nos estilos clássicos. Temas históricos e exóticos foram interpretados de forma muito individual por Mariano Fortuny, o estilista e designer têxtil de Veneza. 


As criações dos Callot Soeurs (de ascendência russa) foram coberto de luxuosos bordados de estilo chinês trabalhados em pássaros do paraíso e flores de lótus nas cores da porcelana pintada. As habilidades de suas costureiras também criaram borlas, vieiras e miçangas luxuosas ao redor das bainhas na altura do joelho, chamando a atenção para as pernas. O estilo japonês, também era popular; a decoração de quimonos em forma de T foi facilmente traduzida em arte de inspiração camponesa nos Casacos Deco, sobrepostos com flores de macieira, bambu e míticas fênix".


Texto escrito por Gabriela Lira. Caso use o texto como referência, por favor dê os créditos ao blog. Plágio é crime e está sujeito à pena!

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Leituras consultadas: 

• Fashions of A Decade: 1920s - Jacqueline Herald, 2007.

• Faces Of Feminism: The Gibson Girl and the Held Flapper In Early Twentieth-Century Mass Culture - Jenifer Palso (2001).

• A Moda na Década de 1920 - Charlotte Fiell e Emmanuelli Direx (2014).



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