As Bolsas na Década de 1940 - Guia Completo
As bolsas fazem parte do cotidiano de qualquer mulher. De couro, de tecido, de mão, à tiracolo, várias são as possibilidades de seu design.
Hoje, vamos mergulhar no curioso universos das bolsas da década de 1940. Entender de quais modos a guerra e a falta de matéria-prima modificaram as estruturas das bolsas e suas estéticas.
Faltou ou Não Faltou Couro?
Antes da guerra (1939-1945), mais da metade das bolsas eram feitas a partir do couro, ele era o principal insumo para fabricar essa modalidade de artigo (entre outros, incluindo sapatos). E é muito comum livros que falem sobre a moda nos anos 40, frisar a escassez do couro, e consequentemente mencionar o surgimento de bolsas feitas através de materiais alternativos. Contudo, os primeiros anos de guerra não foram tão rígidos como imaginamos.
Para entender melhor essa questão, vou usar como argumento um artigo extraído da Revista Vogue. A matéria é sobre mitos e verdades acerca da fabricação de bolsas na época do racionamento. [1]
As Verdades Sobre As Bolsas no Início da Década de 1940
• Vacas não davam bolsas: Apenas 3℅ das vacas, bezerros e vacas de tamanho médio tinham seu couro usado para a confecção de bolsas.
• Grandes bolsas foram proibidas: Aqui, a Vogue diz que a decisão de diminuir o tamanho das bolsas partiu dos próprios fabricantes, e não de uma medida governamental.
• Bolsas de alças não foram proibidas: Pelo contrário, eram tidas como funcionais, mas só deveriam ser usadas quando necessário, e as mãos realmente estivessem ocupadas.
• Fechos de metal estavam em falta: Apenas um estoque limitado estava disponível, por isso, as bolsas no futuro apareceriam com outras alternativas de fecho, entre elas cordões.
• Cores vibrantes diminuíram: Mais uma vez, a Vogue lembrou que o governo não decretou nenhuma norma que regulamentava as cores das bolsas, mas a tendência é que tons como vermelho, branco, preto, marrom, ferrugem, verde e azul fossem menos frequentes no mercado.
• Os estilistas estavam pensando em trocas: A matéria fez questão de mencionar que os designers estavam trabalhando arduamente na criação de soluções, que além de funcionais fossem atraentes aos consumidores.
A matéria também sublinhou a possibilidade de serem feitas bolsas de pele de cabra, porco, crocodilo e foca, além das bolsas de tecidos, tais como: rayon, lã, algodão e faille.
Por que as Bolsas Foram maiores Durante a Guerra?
O principal motivo é a inserção das mulheres no mercado de trabalho. Com longas jornadas, que muitas vezes se iniciavam pela manhã e eram encerradas à noite, as bolsas femininas precisavam ser robustas para suportarem os variados objetos que mulheres carregavam: documentos, chaves, carteira, espelho, maquiagem, absorvente, etc, etc.
"As bolsas ficaram maiores, mais quadradas e práticas, e serviam a propósitos verdadeiros, diferentemente dos modelos minúsculos nas décadas anteriores. Opções maiores eram úteis não só para carregar itens necessários para um dia de trabalho, da mesma maneira que os bolsos grandes dos casacos; elas eram também um bom lugar para esconder rapidamente alguns suprimentos para o caso de um ataque aéreo e da necessidade de passar a noite no abrigo". [2]
Um outro motivo é a utilização da máscara antigás, que foi bastante popular no início dos anos 40 e precisava de um certo espaço.
E por fim, bolsas grandes também possuíam um simbolismo de independência financeira e modernidade.
Os estilos de Bolsas na Década de 1940
• As Carteiras de Mão
Uma das mais populares.Normalmente eram feitas de couro ou material semelhante, embora carteiras de crochê e tecidos possam ser encontradas. Serviam para praticamente todas as ocasiões: passeios diurnos, reuniões formais, jantares ou situações informais.
A carteira tradicional abria e fechava, mas alguns modelos possuíam zíper em cima, como se fossem necessaries.
• Bolsa Box - Modelo quadrado/retangular
Das preferidas na hora de trabalhar. Tinham formato quadrado ou retangular, tamanho médio e eram feitas em material resistente. As alças costumavam ser curtas, e elas tinham um fecho metálico que abria e fechava.
• Bolsas à Tiracolo
Indicada para situações onde a mulher estivesse com as mãos ocupadas, por exemplo: quando fosse fazer compras e outras sacolas tivessem de ser carregadas.
A bolsa à tiracolo retirava a tensão das mãos, e era perfeita caso a mulher carregasse um grande volume de coisas constantemente.
• Sacolas Para Fazer Compras
Essas sacolas eram feitas de crochê e muito resistentes. O intuito principal era economizar as sacolas de papel, super usadas em 1940 (no contexto de compras). Poderiam ser usadas para ir ao mercado, mercearias ou feiras.
Os pontos variavam bastante, algumas eram bem abertas, já outras eram mais fechadinhas.
• Bolsas de Crochê
Como foi dito acima, o crochê apareceu em carteiras de mão e sacolas de compras - e em uma outra infinidade de bolsas da época.
As bolsas de crochê já existiam antes da década de 40 e continuaram famosas no período. Era um modo de poupar couro e ainda assim ter uma bolsa com alta durabilidade e possibilidade de variados formatos, afinal de contas, os pontos poderiam ser feitos de muitos jeitos; e ao final, a bolsa resultaria ser redonda, triangular ou o que permitisse a imaginação e o talento de quem a fizesse.
• Bolsas de Tecido
Mais outra solução para o couro. As bolsas de tecido eram ensinadas em revistas de corte e costura. As alças geralmente eram feitas de tecido também, mas há quem as substituíssem por argolas de plástico, madeira ou metal.
Acima, o anúncio de uma bolsa da marca Graceline. As opções de cores eram azul marinho, preto ou marrom, e as alças eram de acrílico.
• Bolsa-saco
Feitas de tecido, tinham forma de saquinho e possuíam alças de cordão. Também eram ensinadas em revistas e muito reproduzidas, tamanha a facilidade de serem confeccionadas em casa.
"A bolsa de cordão reapareceu e era frequentemente feita em casa, fosse de sobras de tecido, crochê ou de novas fibras sintéticas. As revistas femininas traziam moldes simples, instruindo as leitoras a personalizar suas bolsas com materiais pouco usuais.
Se, por um lado, enfeites em bens comerciais eram malvistos nos Estados Unidos e simplesmente proibidos pelas medidas de austeridade da Grã-Bretanha e pelo sistema utilitário, peças e acessórios feitos em casa podiam ser customizados e, assim como os chapéus, as bolsas artesanais eram geralmente um exercício de criatividade, incorporando bordados, patchwork, apliques e flores artificiais". [3]
• Bolsas de Palha
Era o modelo ideal para passeios em praias e piqueniques, mas seu uso se deu em ambientes urbanos também. Algumas bolsas eram toda de palha, já outras tinham alças de tecido.
Acima, dois modelos semelhantes e datados do mesmo ano:1949. O primeiro foi encontrado no periódico Jornal das Moças e diz o seguinte na descrição:
"Verdadeira inovação da moda é a presente bolsa, ou melhor, um cesto de fibra natural, redondo no alto e oval na base, forrado por dentro por um tecido de diferentes tons que se desdobra numa alça, como se vê, e que atualmente, é uma das maiores sensações do mundo feminino nos Estados Unidos. Criação Richard Koret".
A Vogue, por sua vez, não escreveu muito acerca da bolsa, apenas se limitou em dizer que era da grife Koret, feita de palha e seda amarela e custava U$ 19,00 dólares.
• Bolsa-pasta (satchel)
A bolsa-pasta era indicada para situações onde a mulher precisasse andar de bicicleta. Geralmente eram feitas de couro e tinham alças curtas.
Acima, dois modelos de satchel. Ambas em couro, sendo a primeira na cor marrom e a segunda em azul marinho.
• Bolsas de Luxo
Bolsas pequenas e com decoração refinada voltaram a ser famosas na segunda metade de 1940, seguindo a estética do New Look. Tinham aspecto glamouroso e eram feitas em tecidos nobres, tais como a seda e o veludo. Não raro eram bordadas. Esses modelos usualmente eram comprados para serem usados em jantares ou festas.
Esses são os modelos principais, mas há muitos outros, entre eles as bolsas de acrílico e baquelite.Para ler mais sobre elas clique aqui.
E As Bolsas no Brasil Durante os Anos 40?
Decidi fazer uma pesquisa para saber como foram as coisas aqui no Brasil, e descobri uns fatos interessantes.
A bolsa Leva-tudo
• Em outubro de 1942, o Jornal das Moças ensinou a fazer uma bolsa chamada de "leva-tudo". Na matéria, é citado que bolsas de couro ou fibras, por mais resistentes que fossem, sempre tinham o mesmo formato, e era necessário um modelo que fosse preenchido por completo.
O tamanho da leva-tudo era 70x90 cm. A receita completa eu deixarei acima caso vocês queiram reproduzir em casa. E se fizerem não se esqueçam de me marcar no Instagram!
A tendência do Crochê
• Em março de 1949, o Jornal das Moças publicou uma receita de conjunto em tricô no estilo rajá. O material sugerido para fazer a bolsa foi o fio cardonê metálico, cor cinza.
Outras receitas de bolsas e chapéus em tricô/crochê foram encontradas na revista, e todas inspiradas em modelos estadunidenses, o que prova que nos anos 40, tanto aqui, como nos Estados Unidos era tendência usar chapéus e bolsas combinando entre si.
As Pessoas Consertavam As Bolsas
Encontrei anúncios de alguns lugares especializados no conserto de bolsas. Destaco aqui um local na Praça Tiradentes, rua da Constituição, centro do Rio de Janeiro.
No anúncio não é mencionado nenhum nome, apenas o endereço e os serviços oferecidos: costura, conserto de fecho, alça, mudança de forro, mudança de zíper e tingimento.
É interessante pensarmos que hoje esse tipo de serviço é praticamente inexistente, e os poucos lugares que trabalham com consertos de bolsas se voltam para o mercado de luxo. É meus amigos, o tempo passa e as coisas mudam...
Um lugar revendia Bolsas Finas
Encontrei também o anúncio da Oficina de Peles, que revendia diversas peças com material importado, inclusive bolsas. O lugar prometia um preço mais acessível e grande variedade, informação que me fez pensar que talvez se tratasse de um brechó. Infelizmente, não consegui descobrir se as peças revendidas eram novas ou usadas. Caso eu descubra algo mais, venho aqui e atualizo.
Anúncio encontrado em Jornal das Moças.
Caso use o texto como referência, por favor dê os créditos ao blog. Plágio é crime e está sujeito à pena.
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Texto escrito por Gabriela Lira.Quer que eu escreva pra você? Mande um e-mail para missblondevenus@gmail.com ou entre em contato através do Instagram @blondevennus.
Fontes citadas:
[1]: Revista Vogue, edição de 1 de Fevereiro de 1943, página 90.
[2] e [3]: Moda da Década de 1940, páginas 374 e 375, edição 2014, Publifolha. Charlotte Fiell e Emmanuelle Direx.
2 comentários:
Muito bem! Gosto da ideia de bolsas de crochê.
Eu acho um luxo. Clássico que não sai de moda
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