História da Moda: Anos 1950
O post de hoje é o primeiro da saga sobre a história da moda na década de 1950. Eu particularmente acho impossível narrar a estética de uma época em um vídeo ou post só, por isso vou dividir o conteúdo em várias partes, onde cada uma focará em um tema específico. Por hoje, nós nos concentraremos nas características gerais desse período e em seu contexto histórico.
A Moda de 1950 Não Começou Em 1950
É isso mesmo que você acabou de ler, a estética dominante dos primeiros anos da década de 50 estava alicerçada na segunda metade de 1940, especificamente no período do pós-guerra, com a ascensão do New Look de Christian Dior.
Eu já escrevi e gravei sobre o New Look, e caso vocês queiram maior riqueza de detalhes, cliquem aqui. Mas recapitulando, o New Look foi um estilo que fez oposição ao austero vestuário utilitário da época da guerra (1939-1945).
Enquanto a roupa utilitária era feita em cores simples, com bainhas reduzidas e pregas contadas para economizar insumos, o New Look era dispendioso, opulento e usava muitos metros de tecidos em suas peças.
"Ao longo dos anos cinquenta, a moda feminina foi amplamente baseada no New Look de Christian Dior do final dos anos 1940, que promovia uma imagem idealizada da dona de casa feliz.
A mídia usava continuamente adjetivos como 'suave', 'charmoso' e 'feminino' para descrever as roupas, mas a maioria das imagens fotográficas da moda mostram altura, modelos esguias e pesadamente espartilhadas se segurando em poses de balé altamente artificiais, com pouco ou nenhum sinal de emoção". [1]
A silhueta do vestuário utilitário era reta, com ombros quadrados (herança dos uniformes militares) e as saias e vestidos iam até a altura dos joelhos. Por outro lado, a silhueta do New Look trocou os ombros sisudos por contornos circulares, ajustou ainda mais as cinturas, deixou as saias ultrarodadas e aumentou o comprimento das roupas.
Antigas Potências Enfraquecidas
Vamos dar uma pausa na Moda e falar um pouco sobre o mundo na década de 1950, afinal de contas, as mudanças políticas e sociais influenciam a maneira das pessoas se vestirem.
A Segunda Guerra Mundial terminou em 1945 após a rendição do Japão mediante o bombardeio em Hiroshima e Nagakasi. Os países do eixo saíram derrotados e a Alemanha foi dividida em quatro partes: à leste controlada por URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) e à oeste com domínio de Reino Unido, França e Estados Unidos.
Embora vencedoras, Reino Unido e França estavam enfraquecidas. As duas nações, tradicionalmente imperialistas viram diversas de suas colônias na África e Ásia se movimentarem por independência. Um exemplo notável disso é o da Índia, que se emancipou em 1947 e deixou de ser domínio britânico definitivamente em janeiro de 1950.
"Mas o mundo estava mudando.
A República Popular foi estabelecido na China em 1949. A Índia estava desfrutando da independência conquistada da Grã-Bretanha no final de 1947. No Egito, o ano de 1952 simbolizou um novo começo com a saída do rei Farouk, enquanto a morte de Joseph Stalin em 1953 marcou o fim de uma era para os cidadãos da União Soviética.
A Segunda Guerra Mundial trouxe o fim dos impérios coloniais europeus e os países do terceiro mundo estavam se esforçando para o desenvolvimento econômico e a unidade política". [2]
Estados Unidos da América Fortalecido
Enquanto a Europa era assolada por dívidas e incertezas econômicas, os Estados Unidos viviam um momento bastante estável economicamente falando. Os estadunidenses selaram acordos com os europeus, ao mesmo tempo que tinham bastante influência sob as nações latino-americanas.
Um acordo conhecido dessa época é o Plano de Recuperação Européia, mais comumente chamado por Plano Marshall. Essa ação deu ajuda monetária aos países que precisavam se reestruturar no pós-guerra.
Embora o clima geral fosse de euforia, acompanhado por uma grande sensação de prosperidade futura, os primeiros anos da década de 50 nos Estados Unidos também vieram com uma áurea de perseguição política embutida.
A Polarização Política: Capitalismo x Comunismo
Os Estados Unidos e URSS foram os maiores vencedores da Guerra - se é que podemos dizer que há vencedores em alguma guerra - e a rivalidade acirrou.
Em ambos os lugares, pessoas contrárias aos modelos econômicos e políticos vigentes foram perseguidas. Falando um pouco mais sobre as perseguições nos EUA, lá havia dois órgãos principais que monitoravam indivíduos possivelmente envolvidos com o Comunismo, estamos falando da HUAC (House Un-American Activities Committee) e o Comitê de Atividades Antiamericanas do Senado dos Estados Unidos, esse último controlado pelo então senador Joseph McCarthy; o mesmo responsável pela política do macartismo, caracterizada pela propaganda anticomunista.
"Escrevendo até 1967, Michael Paul Rogin observou o contínuo efeito do macarthismo na comunidade intelectual. Rogin argumentou que é viável afirmar que o macarthismo ‘simbolizava a morte do protesto radical na América', ou que foi em si uma manifestação da direita radical, com o efeito indireto de tornar o intelecto das pessoas na década de 1950 e no início da década de 1960 desconfiadas de qualquer forma de radicalismo.[3]
Dona-de-casa, O Ideal de Beleza
O grande arquétipo de beleza da década de 50 foi o de dona-de-casa (housewife). As mulheres casadas de classe média que por uns momentos conseguiram trabalhar durante a guerra, tiveram de voltar ao lar quando seus maridos retornaram.
Livros e revistas escreviam o quão importante era o papel da mulher dentro de casa, cuidando de seus filhos e esposo. E essa imagem foi reforçada por propagandas de eletrodomésticos que mostravam belas mulheres em seus vestidos de casa limpando e cozinhando.
Os vestidos de ficar em casa eram super rodados e estampados, geralmente usados com aventais. A mulher era incentivada a estar sempre arrumada dentro do lar, com maquiagem e cabelo impecáveis, e unhas feitas.
"Enquanto muitas revistas retratavam a dona de casa como elegantes e glamorosas, questões de sexualidade estavam frequentemente implícitas em discursos sobre mulheres. Isso foi sublinhado pelo clamor na publicação do Relatório de Alfred Kinsey sobre Comportamento Sexual no Humano
Feminino (1953), que afirmava que as relações sexuais fora do casamento eram muito mais frequentes do que comumente se pensava". [4]
As Principais Silhuetas da Primeira Metade de 1950
Na primeira metade da década de 1950 nós podemos observar duas silhuetas muito importantes. São elas:
Silhueta do New Look: rodada, com abundância de tecidos e uso frequente de anáguas para estruturar saias e vestidos. Usar anáguas foi muito comum nessa época. Elas podiam ser básicas ou enfeitadas por laços e outros frufrus.
Silhueta com formato de I: era ajustada ao corpo, típica das saias e vestidos-lápis. Gastava menos tecido e tinha um aspecto moderno, por isso foi muito utilizada por subculturas femininas da época.
Ascensão da Calça Jeans e do Estilo Despojado
As calças foram introduzidas mais fortemente no guarda-roupa feminino a partir dos anos 20, ficaram populares na década de 40, e em 1950 as peças feitas em jeans (ou denim, como também são conhecidas), eram um requisito básico para o estilo casual.
A moda despojada, iniciada por estilistas americanos na década passada, encontrou grandes adeptos nos anos 50. Passeios e eventos ao ar livre, especialmente churrascos, eram as ocasiões perfeitas para tirar seu jeans do armário, colocar uma alpargata e uma camisa de manga.
Esse estilo casual pode ser visualizado por exemplo, no último figurino de Grace Kelly no filme Janela Indiscreta (1954) de Alfred Hitchcock.
A Era das Fibras Sintéticas
O Nylon, criado na década de 30 só se popularizou nos anos 40. A partir de então, ele se tornou o principal material para a confecção de meias e roupas íntimas.
Na década de 50, o público conheceu o Terylene, um tipo de poliéster que caiu nas graças do povo, pois amassava muito menos, diferentemente dos tecidos com fibras de origem vegetal. O Terylene contudo não agradou a todos, porque muitos achavam seu aspecto simplório demais.
"Foram as qualidades práticas que esses tecidos ofereciam - leveza combinada com calor, encolhimento mínimo, secagem rápida e impermeabilização - que foram exploradas ao máximo em roupas esportivas [...] Mas as fibras feitas pelo homem tiveram outro impacto importante, e foi sobre a cor das roupas. Quando os tecidos podem ser lavados e secos quase da noite para o dia, sem medo de encolher, não havia razão para que tons claros e pastéis não pudessem ser usados por todos". [5]
A Moda Adolescente em 1950
A moda se aproximou muito do público jovem nessa época. Contagiados pelo ritmo do rock and roll, meninos e meninas andavam em tribos, onde cada uma tinha seu próprio jeito de falar e vestir.
Os meninos foram fortemente atraídos pelo visual bad boy dos atores Marlon Brando e James Dean. O filme Juventude Transviada (1955), além de trazer um excelente panorama psicológico dessa geração jovem, também nos faz visualizar perfeitamente a estética adolescente do período.
"Em Juventude Transviada (1955), James Dean interpretou um adolescente desafiador e sem raízes, incapaz de se comunicar com os pais que estavam presos em um casamento infeliz.
Com seu cabelo desgrenhado, penteado para cima e vestido com jeans, camiseta e jaqueta, Dean rapidamente se tornou o outro grande herói jovem do cinema dos anos cinquenta, e sua morte prematura, em um acidente de carro em outubro de 1955, não surpreendentemente o transformou em um figura de culto internacional.
A partir de então, jaquetas denim, jeans e camisas xadrez usadas sem as gravatas adquiriram uma aura romântica totalmente nova. [6]
"Adolescentes e jovens também se distanciaram da convenção e autoridade, adotando um ritmo acelerado e enérgico: rock 'n' roll, que continuou a crescer apesar da oposição de adultos que além de não apreciarem sua forma musical, temiam suas origens no black rhythm e blues, e reconheceram a energia sexual e acreditaram que era inapropriado ou mesmo perigoso". [7]
Os garotos durões usavam jaquetas de couro, camisas brancas, calça jeans, cintos e botas ou tênis.
As meninas também fizeram parte desse movimento.Elas usavam saia lápis, salto alto, blusas ajustadas e decotadas, argolas e maquiagem forte.
Há ainda outras subculturas da época que futuramente serão estudadas, tais como o movimento Beatnik e Teddy.
As Lingeries em 1950 - Como eram?
Como foi dito acima, o nylon foi o maior insumo para fazer lingeries em 1950, apesar disso, a seda continuou sendo bastante querida, principalmente pelos consumidores com alto poder aquisitivo, que estavam dispostos e podiam pagar mais caro em uma roupa de seda pura.
O babydoll, um tipo de camisola, ganhou esse nome por causa de um filme de 1956, em português traduzido como Boneca de Carne, protagonizado pela atriz Caroll Baker.
O romantismo foi a grande marca das lingeries dos anos 50. Vestidinhos curtos, babados e muitas cores claras estiveram presentes. A transparência foi outra característica recorrente. As lingeries passavam uma atmosfera de leveza e doçura.
Outra coisa muito comum na lingerie da década de 50 foi o sutiã estilo bullet bra, aqueles pontudos. Para ler mais sobre eles clique aqui.
Eu recomendo que vocês vejam o vídeo que foi incorporado ao post. Nele, eu contei mais curiosidades da época e aprofundei o contexto.
Em breve teremos conteúdos mais detalhados acerca dos anos 50.
Texto escrito por Gabriela Lira.Caso use o texto como referência, por favor dê os créditos ao blog. Plágio é crime e está sujeito à pena.
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Fontes citadas:
Fashions of a Decade: The 1950s - páginas 6 e 8. Patricia Baker, Chelsea House Publishers, 2007.
American Culture In The 1950s - página 18. Martin Halliwell, Edinburg University Press, 2007
American Culture In The 1950s - página 41. Martin Halliwell, Edinburg University Press, 2007.
EyeWitness History: The 1950s - página 243. Richard A. Schwartz, Facts on File, 2003.
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