A Moda Feminina nos Anos 1930 - Características
Lembrada por uma devastadora crise econômica, tensões políticas e seus últimos anos sombrios, com uma guerra à vista, a década de 30, apesar dos pesares, deixou legados importantes para a História da Moda: costas nuas, corte em viés, uso de materiais e tecidos alternativos e um grupo de estilistas talentosíssimos.
A moda feminina em 1930.
Em mais um episódio sobre a Moda no Século 20, chegamos finalmente nos anos 1930.
Contexto Histórico da Década de 30
Toda a década de 30 foi complicada. Os primeiros anos foram marcados pela terrível crise de 1929, que devastou a economia em várias partes do mundo. A instabilidade econômica impulsionou, ao mesmo tempo, o gosto pelo estilo sóbrio e o apreço por estéticas escapistas.
Pessoas na Grande Depressão.
"Em 1932, 3 milhões estavam desempregados na Grã-Bretanha, 6 milhões na Alemanha e 14 milhões nos Estados Unidos. Geralmente, quando pensamos na década de 1930, nossas mentes evocam imagens de desespero: multidão de desempregados e filas de pão, o fortalecimento do Fascismo e a deriva para a Segunda Guerra Mundial. Com essas imagens firmemente plantadas em nossas mentes é fácil esquecer que moda, beleza e glamour ainda eram aspectos importantes do cotidiano de muitas pessoas". [1]
Homens procurando emprego na Grande Depressão.
O trecho acima é muito interessante, pois nos lembra que, apesar das dificuldades enfrentadas nessa época, o anseio por estar arrumado e bonito persistia como um dos mais relevantes desejos universais.
Aqui no Brasil, os anos 1930 foram extremamente importantes, pois, em 1932, as brasileiras conquistaram o direito ao voto.
Em termos políticos e sociais, a década de 30 foi conturbada. Na segunda metade, em especial, já era possível e razoável supor que algo muito ruim estava prestes a acontecer
Mudança de Silhueta e Streamline
Os meados da década de 1920 e os últimos anos dos anos 20 são lembrados pela silhueta reta. O corpo não tinha marcações, e a moda foi bastante influenciada pelo movimento art déco.
O corpo ideal nos anos 30, por sua vez, ainda era esbelto, mas agora trazia marcação na cintura (sempre alta), saias ajustadas e ombros bufantes. O resultado final foi uma silhueta equilibrada, que mesclava elementos de décadas anteriores.
Para ler mais sobre a história das silhuetas no século 20, clique aqui.
Catálogo de moda da década de 30.
Assim como nos anos 20, o vestuário na década de 1930 absorveu influências do campo artístico, e, nesse sentido, não podemos deixar de mencionar o Streamline, movimento que valorizava as formas orgânicas, a aerodinâmica, as cores primárias e as linhas longas e curvas. O Streamline pôde ser observado na arquitetura, no design de interiores, no design gráfico, mas, sobretudo, no design de produtos, que tinha um forte apelo futurista
Automóvel no estilo Streamline.
"A maior inovação estilística da era da Depressão e um aspecto importante do Art Déco foi a racionalização. A Velocidade foi uma das maravilhas da era moderna, e as formas e linhas ditadas pela aerodinâmica foram incorporadas ao trabalho de muitos designers. Na América, o estilo era abraçado por uma onda de designers europeus que vieram para os Estados Unidos para escapar da ascensão do fascismo e da guerra iminente na Europa. Mas o profeta da racionalização da era industrial foi o designer Norman Bel Geddes. Muitas das ideias de Bel Geddes eram visionárias e não práticas, mas, por meio de seus esforços, a simplificação tornou-se o estilo aceito. Também passou a ser visto como um símbolo de otimismo e promessa para o futuro, sugerindo uma nação saindo da Depressão para tornar-se a potência da nova era da máquina". [2]
Ferro de passar em estilo streamline.
A Influência do Cinema na Moda.
Assim como na década anterior, nos anos 30 as pessoas ainda eram hipnotizadas pela magia do cinema. A sétima arte, juntamente com as revistas femininas, seguia como um dos maiores veículos disseminadores das tendências de moda. Entretanto, a indústria cinematográfica estava passando por transformações drásticas.
Popular revista de cinema nos anos 30.
A primeira grande mudança no universo do cinema foi a popularização dos filmes falados. Isso possibilitou o desenvolvimento de tramas mais densas, e muitos atores vindos do teatro se tornaram astros e estrelas das telonas. Contudo, centenas de outros profissionais que tinham vozes consideradas feias ou que não conseguiram se adequar à nova forma de atuação foram descartados sem piedade pela indústria.
"As disposições do Código exigiam que todo roteiro fosse examinado antes de entrar em produção, cada detalhe verificado em uma lista de artigos que declaravam o que era considerado de mau gosto ou moralmente inaceitável no cinema americano. Isso incluía indecência sexual, adultério e 'perversão' (um eufemismo para homossexualidade), nudez, palavrões, brutalidade e irreverência em relação à lei e à religião. Os estúdios assinaram originalmente esse processo de autocensura em 1930 para garantir que vários conselhos de censura estaduais e municipais aprovassem seus filmes com o mínimo de cortes possível e para acalmar o crescente clamor por regulamentação federal". [3]
Não é difícil imaginar que o Código também interferiu nos figurinos dos filmes. Roupas com decotes profundos e lingeries à mostra tiveram de ser revistas com muito cuidado pelos figurinistas.
"A aparência e as roupas das estrelas de Hollywood não eram a única coisa que as mulheres copiavam. O tipo de mulher que as atrizes retratavam também afetava o comportamento, a linguagem e os gestos das mulheres. A melindrosa inquieta e volúvel da década de 1920 foi substituída por um novo tipo 'moderno' de mulher: glamourosa, articulada e independente – a combinação perfeita para seus parceiros 'durões'.
Mas Hollywood não se restringiu ao glamour. Também gerou manias por modas pseudo-históricas, como os pequenos gorros de Julieta, redondos e de trama aberta e vestidos longos de veludo, usados por Norma Shearer em Romeu e Julieta (1936), ou chapéus de barco com fitas, como os usados por Katharine Hepburn em Adoráveis Mulheres (1933). Nenhum dos figurinos desses filmes era historicamente preciso, no entanto, sempre eram modificados para receber a aprovação das estrelas e se adequarem aos gostos contemporâneos.
Katherine Hepburn e Norma Shearer.
Mas justamente quando parecia que os designers de Hollywood poderiam fazer qualquer coisa, o Código Hays de censura de 1934 foi imposto. Além de proibir certas linguagens, assuntos e comportamentos da tela, o Código Hays significava que vestidos decotados ou reveladores eram proibidos. Os cineastas contornaram as restrições e criaram novas situações para suas personagens, enquanto os designers cortaram os vestidos para revelar uma nova área 'segura' dos corpos das mulheres - as costas.
Clark Gable e Jean Harlow no filme Terra de Paixão (1932).
O impacto de Hollywood foi tal que revistas como a Vogue começaram a perguntar se Paris ou Hollywood estavam criando a nova moda. Na verdade, foi mais uma troca de ideias. Designers europeus como Marcel Rochas, Alix, Edward Molyneux, Jean Patou e Jeanne Lanvin viajaram para a Califórnia para projetar filmes, e os roteiristas também fizeram viagens à Europa, pesquisando material para suas criações. Além disso, as próprias estrelas gastaram suas novas fortunas viajando para a Europa para se vestir. Em 1935, Elsa Schiaparelli abriu uma boutique na Place Vendôme em Paris - a primeira de seu tipo e o modelo que quase todos os costureiros seguiriam no futuro. A primeira cliente particular de Schiaparelli foi Anita Loos, autora de Os Homens Preferem As Loiras e, ao longo da década, passou a vestir uma galáxia de estrelas, entre elas Marlene Dietrich, Claudette Colbert, Norma Shearer e Gloria Swanson". [4]
Um dos exemplos mais claros da influência do cinema na moda da vida real dos anos 30 é o modelo de vestido Letty Lynton. Esse nome se deve ao filme de 1932 protagonizado por Joan Crawford, que no Brasil foi traduzido como Redimida.
O Ideal de Beleza em 1930
Como foi dito nos parágrafos acima, o corpo esbelto, reto e sem muitas curvas ainda era o padrão a ser alcançado. Contudo, a radicalização de uma figura totalmente reta, cultivada nos anos 1920, cada vez mais caía por terra
Outra modificação nos padrões estéticos foi em relação à maquiagem. A pele extremamente pálida, muito desejada nas primeiras décadas do século 20 e até mesmo em séculos anteriores, perdeu espaço para uma pele iluminada, com bochechas rosadas e, muitas vezes, bronzeada
Peles bronzeadas, por muitos anos, foram sinal de que uma pessoa pertencia à classe trabalhadora, o que, consequentemente, era considerado inferior. Mas nos anos 30, a popularização dos cruzeiros e resorts em lugares como a Riviera Francesa, por exemplo, mudou essa percepção. Exibir a tez bronzeada já não significava que alguém trabalhava debaixo do sol, mas que era abastado e deliberadamente se deixou bronzear em alguma viagem ao redor do mundo.
Para ler mais sobre a maquiagem em 1930, clique aqui.
Os cabelos permaneceram curtos, mas um pouco mais longos do que na década de 20. O ondulado no estilo Marcel Waves ainda era comum na primeira metade da década, e a grande sensação no universo dos cabelos foi a expansão das tintas para colorir. O loiro platinado de Jean Harlow e Mae West era o sonho de muitas mulheres da época.
"O cabelo loiro era muito admirado, muito procurado e facilmente adquirido.O peróxido era aplicado no cabelo, geralmente com uma escova de dentes, e reaplicado até que a tonalidade desejada fosse alcançada. Muitas das estrelas de Hollywood foram preparadas para serem loiras, e o que há de mais moderno em loiras foi a loira platinada Jean Harlow, a mais famosa de todas. Ela geralmente aparecia em seus filmes se esgueirando em vestidos de cetim com decote frente única. Em sua curta carreira, 'a Loira Bombshell' inspirou milhares, senão milhões, de mulheres a descolorir os cabelos, com diferentes graus de sucesso".[5]
Moda Esportiva em 1930
Houve um grande interesse nos anos 30 em relação a dietas e práticas esportivas, especialmente atividades ao ar livre. Tudo isso foi suficiente para inspirar a moda.
Uniformes específicos para esportes foram desenvolvidos e refinados.
"Durante os anos trinta, a atividade física e a adoração do sol assumiram proporções de culto. Uma das manifestações foi a Liga Feminina de Saúde e Beleza, fundada na Grã-Bretanha por Prunella Stack em 1930. Em seu uniforme de short curto de cetim preto e blusas de cetim branco sem mangas, milhares de membros da liga deram demonstrações públicas de aptidão física, com base no princípio de que um corpo treinado era o segredo para uma vida simples, mas feliz.
Por toda a Inglaterra e Europa continental, clubes naturistas e centros de saúde e sociedades esportivas foram formadas para homenagear a beleza do corpo. Nudismo e caminhadas vieram da Alemanha, e durante toda a década de 30, a Áustria e a Alemanha eram destinos de férias da moda na Europa.
O efeito na moda foi uma tendência para saias, shorts e chapéus de penas camponesas tirolesas, à medida que jovens e adultos se juntavam a clubes de caminhada. As pessoas estavam tão obcecadas em manter a forma que uma greve dos taxistas franceses em 1936 deu início a uma mania de andar de bicicleta. Naturalmente, roupas especiais para ciclismo eram obrigatórias!
Mesmo que não participasse de nenhuma atividade esportiva, mas se contentasse em assistir, a mulher atenta à moda poderia usar o que as revistas de moda chamavam de 'roupas esportivas para espectadores'. Para a primavera e o outono, eram terninhos de saia e casacos em tweed e lã xadrez, enquanto no verão, jaquetas azul-marinho e saias brancas eram roupas apropriadas para assistir tênis ou pólo.
A combinação azul-marinho e branco também era popular em cruzeiros ou em estâncias de férias. Para enfatizar um visual náutico, motivos como âncoras e as rodas do navio eram bordadas nos bolsos e lapelas". [6]
Os vestidos de Festa
Talvez o maior legado para a moda contemporânea deixado pelos anos 30 tenha sido o corte em viés. Essa técnica de modelagem, creditada à estilista Madeleine Vionnet, desenvolvida no final dos anos 20, consiste em posicionar o molde a 45 graus no tecido. O resultado é uma peça com mais elasticidade, movimento e melhor caimento
Vestidos de festa nos anos 30 usaram amplamente o viés. Geralmente eram confeccionados em tecidos brilhantes, como o cetim e a seda, e as costas de muitos deles eram nuas.
"Usando técnicas de corte em viés, os estilistas podiam produzir vestidos em seda, cetim, chiffon e crepe que se agarrariam ao redor do busto, cintura e quadris e saia das coxas em uma elegante saia.
A técnica de corte em viés continuou nos anos 30, mas os vestidos de noite agora tinham um novo elemento: eles eram sem costas. Alguns vestidos eram sustentados por alças estreitas, enquanto outros tinham gola alta, onde o painel alto da frente era amarrado na nuca, deixando as costas e os ombros completamente expostos". [7]
No vídeo anexado ao post, vocês podem conferir mais informações sobre a moda dos anos 30, incluindo a influência do movimento surrealista e os principais estilistas.
Fontes consultadas e/ou citadas:
[1], [2], [4], [5], [6] e [7] - Fashions of a Decade: The 1930s - Maria Constantino (2007).
[3] American Culture in The 1930s - David Eldridge (2008).
A Moda na Década de 1930 - Charlotte Fiell e Emmanuelli Direx (2014).
Costume and Fashion Source Books: 1920s and 1930s - Anne McEvoy (2009).
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